Começo essa história de um modo muito convencional. Era uma vez uma menina que se chamava Chapeuzinho Vermelho, sua vida era muito entediante, monótona e repetitiva, vivia andando pelo bosque levando doces à sua vovozinha e o lobo perseguindo-a sempre. Até que um dia ela percebeu a hipocrisia disso tudo. E quis ir ao mundo real, onde a vida era bem mais interessante (ao menos ela pensava assim). Cresceu, foi ludibriada por seus pensamentos idealizados sobre a vida fora dos contos de fadas e conseguiu chegar até o mundo de verdade. Quando chegou, achou tudo maravilhoso, lindo e sentiu uma liberdade que jamais havia sentido em toda sua existência. Depois de um tempo, começou a observar melhor as coisas ao seu redor, percebeu que o mundo real era poluído, pusilânime, sem cores. Os homens eram ingratos, mesquinhos, insensíveis, criavam bombas para destruir-se uns aos outros. Quis voltar, já não era mais possível, havia esquecido o caminho. Chorou, se deu conta de que muitas vezes é melhor viver em um mundo de fantasia do que viver na realidade. Começou a adoecer, ficou doente de desgosto, se desgastou lentamente até se reduzir a pó e foi levada pelo vento.
E a doçura é tanta que faz insuportável cócega na alma. Viver é mágico e inteiramente inexplicável (Clarice Lispector).
Quem sou eu?

- Priscilla V.
- Recife, Pernambuco
- Poderia dizer que vivo de sonhos, mas creio que são eles que vivem em mim. Arriscaria classificar-me como quixotesca, a cada dia mato meus gigantes para, na manhã seguinte, aperceber-me de que eles não passavam de meros moinhos. Acredito firmemente que as melhores pessoas tem um quê de loucura, manter-se fixo na realidade é enfadonho. O ideal mesmo é tirar os pés do chão e, se possível, aprender a voar.
sábado, 12 de março de 2011
sexta-feira, 11 de março de 2011
Descubra...
Os homens estão me esquecendo, hoje em dia só se preocupam com coisas supérfluas e sem sentido verdadeiro. Estou morrendo aos poucos, não tenho mais voz, sobrevivo de algumas poucas pessoas (que escassas que são!) que ainda me conhecem. Sou passado e um pouco do presente, mas não sei se vou ser futuro. Já fiz muitos sofrerem, chorarem, me odiarem, mas também já fiz muitos sorrirem. Sou conhecido como paradoxal, adoro antíteses psicológicas. Sou essencialmente sentimental. Alguns não tem sorte comigo, outros têm uma afinidade muito grande. Vivo intensamente em familias, em sonhos, em pensamentos. Só me conhece bem quem é puro de alma. Estou presente em cada olhar apaixonado, em cada gesto de carinho, em cada beijo. Você provavelmente já sabe quem eu sou, quiçá você ainda não me conheça. Eu sou o amor.
sábado, 5 de março de 2011
Noite de Inverno
A menina observa o mar de estrelas,
Que se assoma por sua janela,
Na fria noite de inverno,
E enquanto olha,
Pensa que a lua lhe sorri,
Um sorriso doce de lua,
A menina está sozinha,
Em uma noite de inverno,
Tão fria e escura quanto sua própria solidão,
Ouve ecos,
Ecos de um passado distante,
E enquanto escuta atentamente aos ruídos,
Acorda...
E apercebe-se que estava sonhando,
Sonhando que estava acordada,
Em uma fria noite de inverno,
A menina não está mais só,
Agora tem a lua como companheira.
sexta-feira, 4 de março de 2011
O poder das palavras
É realmente curioso o poder que as palavras tem. Às vezes penso que elas são entes vivos, que se constroem e se reconstroem constantemente. Quando se organizam dão lugar à uma história, que é um texto inacabável. Mesmo que tenham um ponto final, nunca estão realmente terminadas, continuam a se desenvolver na cabeça do próprio autor, na imaginação e no sentimento dos leitores. Por isso digo que quem lê experimenta uma sensação única, de liberdade. Ler é criar um universo maravilhosamente novo e ao mesmo tempo já conhecido, é voar e imaginar a vida de um modo diferente. As palavras escritas são, muitas vezes, mais significativas que as faladas, pois quem fala pode estar simplesmente profanando palavras levianas, sem sentido verdadeiro. Por outro lado, as palavras escritas sempre ficam, porque foram eternizadas em algum lugar.
"As palavras sempre ficam. Se me disseres que me amas, acreditarei. Mas se me escreveres que me amas, acreditarei ainda mais. Se me falares da tua saudade, entenderei. Mas se escreveres sobre ela, eu a sentirei junto contigo. Se a tristeza vier a te consumir e me contares, eu saberei. Mas se a descreveres no papel, o seu peso será menor. Lembre-se sempre do poder das palavras. Quem escreve constrói um castelo, e quem lê passa a habitá-lo".
(Silvana Duboc)
quinta-feira, 3 de março de 2011
Perdão
O que eu vou postar agora é uma história que fiz há algum tempo, ela é um pouco diferente de tudo que já escrevi e por isso eu gostei muito:
Ele andou vagarosamente pela ruela deserta observando tudo ao seu redor minuciosamente. Caminhando desse jeito, notou que agora chegava a um ponto em que as casas eram menores, mais pobres e ali crescia um tipo de erva daninha.
Ela o esperava, parada em frente a um portão, humilde como tudo que havia naquele lugar. Quando o viu lançou-lhe um olhar indiferente, quase de desprezo. Ele, no entanto, exclamou:
_ Luisa, meu amor!
A moça limitou-se a dizer secamente:
_ Precisamos conversar, mas não aqui.
_ Então para onde vamos?
Ela não respondeu, apenas apontou para uma estreita estrada de barro, quase imperceptível. Andaram por um tempo que pareceu uma eternidade então, abruptamente, ela parou:
_ André...
_ Diga logo de uma vez!
_ André...eu...eu estou noiva!
_ Como assim noiva?
_ O nome dele é Felipe e nós vamos nos casar na semana que vem.
_ O que aconteceu com todas as juras de amor que você me fez?
_ André...eu...me desculpe!
_ Desculpas? Desculpas? Você está me pedindo desculpas?
_ Sim...é...eu...
_ Não Luisa, sou eu que tenho que te pedir desculpas.
_Você? Mas você não fez nada!
_ Não vou pedir que me perdoe pelo que eu fiz e sim pelo que estou prestes a fazer.
_ E o que você vai fazer?
_ Acredite em mim. Você já vai descobrir – E dizendo isso virou-se e foi embora.
Uma semana se passou. Era o dia do casamento de Luisa. Faltavam apenas cinco horas para a cerimônia e ela estava em casa se arrumando. Seu futuro marido a esperava na sala (dizem que dá má sorte ver a noiva antes do casamento, mas eles não estavam preocupados com isso). Repentinamente a campainha toca:
_ Quem será a essa hora? – Pensou Luisa.
Eles abrem a porta e ela se surpreende. Parado do lado de fora está André:
_ Quem é você? – Perguntou Felipe, atordoado.
_ Um amigo de Luisa. Vim lhes dar o meu presente de casamento.
_ Ah! André... Não precisava! – Disse Luisa.
_ Eu insisto! – Falando isso, ele entrou rapidamente na casa, sacou uma faca e apunhalou os noivos de uma só vez.
Enquanto observava a morte dos dois, ele olhou para a face pálida de Luisa e murmurou:
_ Me perdoe.
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