Ele olhou-a, com aqueles grandes olhos risonhos, cor de avelã. Ela se perdeu em seu olhar, absorta com tamanha doçura. Tocou-lhe a face cansada, observou suas rugas de preocupação aparentes, caminhou por seu rosto, sentindo, com os dedos, os vincos que os anos haviam esculpido em sua fronte. Apesar de tudo, ele ainda era o homem mais bonito que ela havia visto. Não por sua aparência, mas havia algo em sua maneira, em seu jeito, que o tornava diferente de todos os outros que já havia conhecido. E ela ansiava, cada vez mais, torná-lo feliz. Talvez por isso inquietava-se tanto. Queria fazê-lo sentir-se completo a todo custo, não importando o que tivesse que fazer para alcançar isso. Afinal – pensava ela – os fins justificam os meios. E, com essa visão maquiavélica, de certa forma grotesca, vivia sem viver, um dia de cada vez. Até que por fim, ele cansou-se dessa realidade burlesca que ambos dividiam. E, com uma única lágrima partiu. Ela, então, abaixou-se outra vez, para juntar, aos poucos, os caquinhos de seu coração esfacelado.
"Em algum lugar, em toda aquela neve, ela via seu coração partido em dois pedaços".
(A menina que roubava livros - Mark Zusak)
(A menina que roubava livros - Mark Zusak)