Ele acordou, levantou-se e vestiu sua máscara. Saiu pela rua cabisbaixo, tinha vergonha de quem era realmente, da sua verdadeira essência, da sua personalidade. Conheceu outras pessoas, elas também usavam máscaras. E assim cresceu, conhecendo mais e mais gente falsa e nunca ninguém se preocupava realmente pelo seu estado, pelos seus sentimentos. Até que um dia, já farto de tudo isso, resolveu arrancar sua máscara e percebeu, horrorizado, que em seu rosto não restava mais verdade, não lhe restava opinião própria, era apenas uma marionete, construída por mentiras, que ele mesmo havia criado.
Eu sei que há muito pranto na existência,
Dores que ferem corações de pedra,
E onde a vida borbulha e o sangue medra,
Aí existe a mágoa em sua essência.
No delírio, porém, da febre ardente
Da ventura fugaz e transitória
O peito rompe a capa tormentória
Para sorrindo palpitar contente.
Assim a turba inconsciente passa,
Muitos que esgotam do prazer a taça
Sentem no peito a dor indefinida.
E entre a mágoa que a máscara eterna apouca
A Humanidade ri-se e ri-se louca
No carnaval intérmino da vida.
(A máscara - Augusto dos Anjos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário