Hoje eu te vi acordando pela primeira vez ao meu lado. Teu sono estava estampado em tua face marcada pelo travesseiro. Sorriste, com os cabelos desgrenhados, após um longo bocejo. Pensei comigo como eu era sortudo em ter-te junto a mim. Levantaste e pude ver teu pijama infantil folgado, desgastado pelo tempo. Disse-te como estavas linda aquela manhã e, então, me olhaste com cara de escárnio chamando-me de mentiroso. Em vão tentei argumentar que te dizia a verdade, mas teu olhar me repreendia silencioso. Peguei-te no colo e te beijei preguiçosamente, de um jeito que te fez rir zombeteira. Deitaste em meu ombro, transparecendo genuína empolgação enquanto tagarelavas banalidades e eu observava, deliciado, teu semblante de pura felicidade, sem prestar atenção no conteúdo da conversa – pausaste no meio da frase, te apercebeste da minha aparente desatenção – me olhaste acusadoramente, veneno faiscando em tua íris, fizeste biquinho, aborrecida. Deitaste na cama, como uma criança birrenta. Abracei-te suavemente e te fiz cócegas por todo o corpo. Riste, com deleite. Já não estavas descontente. O despertador tocou, avisando que já era hora de ir trabalhar, e, a contragosto, nos levantamos para começar o dia.
"Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã"
(Cotidiano - Chico Buarque)
(Cotidiano - Chico Buarque)
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